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14 de junho de 2020

Sobre aquele café

Dia desses apareceu uma macha vermelha no meu corpo...coisa estranha e antes nunca vista. Acabei tendo que fazer um acompanhamento médico pra entender que infecção era aquela e como tratá-la. Até aí tudo bem. Difícil mesmo era encarar a distância da minha casa até o consultório médico, mas nada desesperante, até mesmo porque sempre aproveitei muito os meus momentos de flâneur .

E foi assim, que me encaminhando até o laboratório para pegar os resultados dos meus exames, que fui puxada, rendida, seduzida por um cheiro tão maravilhoso de café, que de lembrar agora, os olhos brilham numa saudade infinita. Tentei ignorar, mas já era tarde, e quando dei por mim, estava dentro da pequena cafeteria, tão charmosa por si só, não fossem as belas tortas e o contínuo cheiro que se desenhava pelo ar, como que num balé sincrônico e invisível ...





Pedi um café e um pedaço de torta de damasco. Sentei sozinha e já no primeiro gole, pude entender o motivo de ter parado lá dentro. O gosto suave, quase romântico me desmontou. de repente me descobri ali, apaixonada por um café. E da mesa onde eu estava, podia ver a atendente brincando com as xícaras e arremessando a água quente com tanta delicadeza, que quando esta mesma água se encontrava com o aquela junção de pó tão suave, parecia nascer um poesia em forma de fumaça. Algo inexplicável para alguém que estava ali, só de passagem.

A hora da consulta já estava próxima e ao tomar o último gole, parecia que eu estava me despedindo daquela paixão tão inesperada e avassaladora. O café acabou, a torta também. Como foi difícil me levantar, mas fui, enchendo de elogios as mocinhas do atendimento e declarando meus sentimentos pela sensação de paz que aquele café me deu. A atendente logo me notificou que eu poderia comprar um pacotinho daquele mesmo café para fazer  no conforto do meu lar. Subitamente identifiquei o café o paguei um preço, digamos que, muito alto, mas agora ele era meu!

Chegando em casa, o guardei...Pra ser sincera, o escondi aonde ninguém pudesse encontrá-lo porque ele era meu. Aquele café maravilhoso era só meu! O guardei para fazer em um dia especial, poder sentir novamente toda aquela sensação tão única. Eu. Somente eu. Não percebi o egoísmo que aquele sentimento de posse me trouxe, quando lembro que até hoje, passado um bom tempo, o café continua preso dentro do pacote, intacto, esperando o dia de ser feito. Eu não tinha pressa porque ele já era meu. O comodismo de ter algo que te fez bem preso, escondido, hoje me fez entender que somos assim com todas as coisas na vida que nos fazem bem...queremos possuí-las, ter só pra nós...E quando ela é nossa, não damos o mínimo valor. Fica lá, presa, esquecida na zona de conforto que eu criei sabendo que aquela coisa perfeita pertence somente a mim.

Que um dia possamos entender que o nosso maior sentimento não deve ser guardado num fundo de gaveta, só porque temos certeza de que ele pertence a nós, mas que sim, possamos vivê-lo como uma paixão intensa e maravilhosa. Com isto, termino de deliciar uma xícara desse tão majestoso café, respiro fundo e mesmo em meio a tanto caos, tenho a certeza de que hoje, pelo menos hoje, estou vivendo e não guardando "vida" pra depois.


Deh



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