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17 de junho de 2017

A escrita de Virgínia Vitorino


Hoje vamos falar sobre a dramaturga e poetisa portuguesa Virginia Vitorino. Virgínia (1895-1930) nasceu em Alcobaça, mas assim que cresceu foi para Lisboa estudar e até onde a história nos conta, em tudo que se arriscava incrivelmente dava certo. E não é para menos. Virgínia parecia viver além de seu tempo e era dedicada em todos os seus ofícios, tendo sido uma das maiores poetisas de sua época e hoje se faz esquecida por muitos, mas há registros que confirmam sua grandiosidade que começa bem antes de Florbela Spanca começar a se destacar também por sua escrita. Hoje encontramos mais pessoas que conhecem o trabalho de Florbela, claro também muito importante, mas desconhecem totalmente as obras de Virgínia.

Virgínia começou a escrever poesia e lançou três livros, mais adiante se arriscou na dramaturgia e escreveu 6 peças teatrais que mostravam como vivia a sociedade naquela época e sua escrita era simplesmente perfeita, correta e original. Formada pela Faculdade de Letras de Lisboa, Virgínia foi também professora do Conservatório Nacional de Lisboa e trabalhou na Emissora Nacional, dirigindo peças radiofônicas.

A escrita de Virgínia merece destaque no Palavra Versátil justamente pelo bom uso da palavra que de forma clara e concisa nos enreda aos sentimentos descritos sem muitas voltas. Virgínia escrevia com a alma, sem a artificialidade do escrever por escrever. Sua escrita tinha muito de si e sua carga poética pode ser vista em suas obras, por exemplo a que dá título: Namorados. Este livro que foi e publicado em 1918 já teve cerca de 14 edições. 

Destaco aqui então algumas de suas poesias que se encontram no livro Namorados, que me atingiu em cheio, pois retrata o amor dentre outros sentimentos de uma forma tão sublime, real e doce que acaba traduzindo o que nós mesmos sentimos e por vezes não conseguimos traduzir por meio de palavras. Que Virgínia Vitorino seja eternizada por sua dedicação à boa escrita e pelo belo trabalho trabalho que resumiu toda a sua vida como o amor à arte.





Fonte: Fundação Biblioteca Nacional

11 de junho de 2017

Conversa Literária



Neste final de semana participei, junto com minha amiga Flávia do evento "Conversa Literária" que não possui um lugar específico para acontecer, sendo conclamado em salas de leituras, auditórios, bibliotecas entre outros e tendo como objetivo principal, difundir a literatura de modo geral a todo tipo de público.
O evento deste final de semana ocorreu Casa de Artes, localizada na ilha de Paquetá e sua abertura foi feita pelo anfitrião José Lavrador que contou a história de Paquetá e logo após o almoço abriu-se a mesa de conversa com a presença de Alexandre Damascena, Domingo Gonzalez, Edna Bueno, Godofredo de Oliveira Neto, Hellenice Ferreira e Jorge Roberto Martins.
O tema da mesa 1 foi: A arte de contar, ler e escrever histórias e foi exatamente isto que aconteceu. Uma conversa tranquila em que os participantes da mesa, assim como os ouvintes falavam de suas experiências dentro da arte da contação de histórias, bem como da produção de contos, poesias e histórias variadas.

Achei particularmente incrível como as pessoas que ainda tem a arte como lema de vida, abraçam a causa da literatura, promovendo encontros como este, onde as pessoas conseguem mostrar suas experiências e todo o amor que sentem pela literatura. Foi nítida a emoção dos convidados ao falarem de suas primeiras experiências com o livro e como foi marcante pra elas aquele momento.


Depois da primeira conversa, foi feito o sorteio de muitos livros sendo eu uma das ganhadoras. O meu livro se chama "A Ficcionista" e foi escrito pelo professor Godofredo, que é escritor e professor da minha Universidade na área de Literaturas. Achei a forma de escrita bem diferente e interessante e em breve pretendo uma resenha e deixa-la registrada aqui.

Acredito que eventos como este são muito bons, pois inserem na sociedade atual um resgate à forma como se lê e o que se lê hoje em dia. Foi uma experiência maravilhosa estar ali e vivenciar esse momento tão marcante entre tantos amantes da literatura. Que venham mais eventos como este!

10 de junho de 2017

Resenha de Filme - A vida secreta das palavras



Eu gostaria de começar os textos nesse espaço falando sobre literatura, todavia me deparei com um filme que toca bastante e que conheci já faz um longo tempo. Estava de repouso após uma cirurgia em 2009 e acabei assistindo este filme sem nenhum compromisso e acabei me apaixonando pela aura intimista e acolhedora que foge daquele conteúdo fútil hollywoodiano e nos faz "embarcar" literalmente em um navio petroleiro junto com Hanna, uma moça muito introspectiva, com problema auditivo e que parece a todo o tempo não querer ouvir a si mesma. Hanna é uma funcionária exemplar que nunca tirou férias, nunca chegou atrasada e sempre fez seu trabalho com competência e de tanto se dedicar o patrão a obriga a sair de férias. Na viagem que faz, perdida sem saber o que fazer acaba ouvindo uma conversa de que precisavam de uma enfermeira no navio petroleiro que está ancorado próximo de onde estão e resolve se candidatar. Daí pra frente começa uma história muito diferente de todo o conteúdo dos filmes comuns.

Hanna passa a cuidar de Joseph que ficou cego temporariamente por conta de um incêndio e começa então uma relação muito difícil, pois mesmo com a dificuldade na visão ele mantém seu comportamento grosseiro e desrespeitador, mas aos poucos percebe no silêncio de sua enfermeira que ela não é tão comum assim. Ficamos então sob a expectativa de um homem cego e uma mulher surda e começamos a ter uma percepção da vida de acordo com a própria percepção dos personagens. 

A poesia do filme começa quando sintetizamos diante de tantos silêncios e imagens que uma relação nova começa a surgir, em que um mantém cicatrizes expostas e o outro mantém cicatrizes escondidas não só no corpo, mas também na alma. Há uma cena específica em que Hanna deixa que Joseph toque em suas cicatrizes do outro e é esse um dos momentos pra mim mais tocantes e emocionantes do filme que mesmo parecendo parado e monótono nos faz pensar a vida, pensar as dores que carregamos no peito. O tempo em que passamos juntos aos personagens implica em um conhecimento do nosso próprio interior, numa cura pessoal. 

Este filme hoje me faz lembrar mesmo que pouco, um conto de Clarice Lispector chamado "Amor" e está no livro "Laços de Família", em que temos a personagem Ana que vive uma vida muito monótona sendo perfeita dona do lar e mãe exemplar, e ao tomar um bonde se depara com um cego que saiu para comprar ovos e com a freada brusca do bonde, acaba tendo seus ovos quebrados. Ana ao participar daquele incidente tem um choque com a realidade e a partir de um homem cego passa a ter a visão correta da vida, de como tudo era frágil e se sente insegura quanto a tudo. Ao fato de poder enxergar o perigo e aquele cego não, ela passa a sofrer angústias terríveis, mas conclui que o melhor que há de se fazer é viver intensamente, valorizar as coisas e pessoas ao seu redor porque um dia tudo acabaria. Acredito que quando os ovos se quebram pela freada do trem, Ana sai da casca, sai da sua zona de conforto e isso a tonteia, a faz despertar para o real.

É nesse momento que aproximo o filme do conto, pois Joseph precisou perder a visão mesmo que temporariamente para passar a ver a vida como ela é de verdade, a apreciar tudo aquilo que não podia ser percebido pela visão, a dar mais valor às coisas. Sua cegueira o faz começar a enxergar a vida como ela é de verdade e as dores das feridas ocasionadas pelo incêndio atrelado à relação com a enfermeira desperta a empatia nele. Daí percebemos que estamos aprendendo algo da vida a todo momento. Tudo é aprendizado. E Hanna também aprende muito. Em certo momento do filme, Hanna cuidando de Joseph confessa que é surda, que usa aparelho e quando não quer ouvir o mundo, desliga-o e não ouve mais nada. Ela não confiava em ninguém, mantinha apenas ao que parece uma relação com uma narradora infantil que fala em alguns momentos bem específicos e só no final conseguimos entender quem é esta menininha. Hanna consegue mesmo com muita dificuldade a confiar em Joseph e se abrir, mostrando as feridas de sua alma...e não são poucas. São traumas irreversíveis que abala mesmo a nós, meros espectadores.

Aprecio tanto o filme que comprei o DVD assim que saí do repouso da cirurgia e bem... creio que já tenha falado demais sobre ele. Destaco também a atuação de Sarah Poley e Tim Robbins como brilhantes, densas, fortes. Eu sou apaixonada pelo Tim desde o filme "Sobre meninos e lobos" e ainda não superei algumas situações ocorridas com o personagem neste filme. Mesmo sendo um filme de muitos anos atrás, continua nos fazendo aprender muito e ser empáticos com as pessoas, seja amigos ou desconhecidos. O amor nunca terá tempo de validade, nunca será assunto batido e o amor que acontece na relação de Joseph e Hanna é singelo, pacato e nos ensina muito, muito. Não se vê romance claro, se vê processos de cura, de libertação e confiança. Não espere cenas românticas neste filme, espere por aprendizados e não só entre as personagens principais, mas há outras pessoas no navio, outras almas vazias, abandonadas e a solidão de cada uma vai sendo captada por Hanna e por cada um de nós. Por fim, é um filme muito poético e duro porque somos acostumados a assistir filmes que nos incentivam a sonhar, a permanecer no lúdico de um amor possível e totalmente maravilhoso e neste filme encontramos pessoas perdidas, pessoas que precisam de cura e temos a percepção particular de nossas próprias feridas e que também precisamos cura-las.
Que assim seja.


Data de lançamento:21/10/2005 - 15/06/2007 (DVD)
Prêmios : Goya (Melhor Filme, Diretor, Roteiro Original, Direção de produção), Ariel (Melhor filme Ibero-americano)
Direção: Isabel Coixet
Elenco: Sarah Polley, Tim Robbins, Javier Cámara...
Gêneros: Drama, Romance
Nacionalidade: Espanha
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